Este grupo marcou meu retorno ao convívio social. Eu estava isolada, triste, sentindo dores, com a criatividade embotada e a alegria inexistente. Me senti acolhida e amada. Em alguns encontros, me emocionei bastante. Acho que chorei mais que todo mundo. Meu choro, assim como meu riso, foi recebido de coração aberto, com empatia e generosidade. As pinturas mudaram ao longo de todo o processo, trazendo símbolos importantes, entre eles o emaranhado e a aranha. Foi libertador falar sobre as pinturas, as emoções e os sentimentos que elas despertaram.
Comecei pintando imagens aprisionadas, emaranhadas, confusas, sem saída. Aos poucos, o emaranhado foi se soltando e dando lugar a cores fortes e formas livres. Minha criatividade acordou e se manifestou numa profusão de imagens. Me senti fluida, leve, amorosa e confiante. Pratiquei a escuta refletida e a escuta empática. Aprendi muito na vivência “Se essa pintura fosse minha”. Recebi preciosos ensinamentos do Tarô. Paralelamente, reli passagens marcantes do livro “Mulheres que correm com lobos”.
Trabalhar questões pessoais no grupo foi estimulante e proveitoso. A visão de cada um sobre o trabalho do outro enriquece a autopercepção. Acredito que todos evoluíram no sentido de se conhecer e se entender um pouco mais. Cheguei muito próxima do trauma que me acompanha até hoje. Não sei dizer qual foi, mas tive um insight: minha criança ferida nasceu junto com a chegada do meu irmão, um ano e meio mais novo. Minha mãe, que já não era afetuosa, passou a se dedicar ao filho homem, que seria para sempre seu favorito. Devo ter me sentido rejeitada e abandonada, e engoli a raiva que senti pelos dois. Muita, muita raiva, que direcionei contra mim mesma, me punindo a vida inteira. Comecei a acessar essa raiva nas pinturas.
Não sei aonde vou chegar, mas com certeza é melhor que o lugar em que me confinei toda a vida. Estou saindo da caixa. Sou gigante e poderosa. Eu sou Luci.
Obrigada, símbolos! Obrigada, companheiros de mergulho! Obrigada, vida que retorna! Eu nunca deixei de te esperar.