Escrita espontânea
Um terceiro ser nasceu também com contornos de rio, que se colorem por si. Ficou um canal aberto, para a luz entrar. Os olhos grandes me contemplam de modo mais suave, menos incisivos que os dos outros seres.
Diálogo
Eu: Quem é você?
Ser: Eu sou o ser que respira luz.
Eu: Eu te vejo ambíguo. Às vezes eu vejo dois, quase próximos a se separar e às vezes eu vejo um com uma abertura tremenda para entrar a luz do mundo.
Ser: Eu sou o que você vê. Eu estou tranquilo. Meus contornos são menos nítidos.
Eu: O que você tem a me ensinar?
Ser: O que você precisa aprender?
Eu: Eu preciso aprender a respirar mais profundamente, a respirar mais calmamente.
Ser: Você tem medo de mim?
Eu: Não, eu não tenho medo de você, mas eu acho você estranho, parece que a sua cabeça vai se partir em duas. Parece que tem um rio querendo entrar na sua cabeça.
Ser: Eu sou mutante, você não pode querer me controlar. Às vezes sou rio, às vezes sou ar, às vezes sou leão. Se você olhar para todas as minhas formas, você vai ver uma interseção. O arco-íris é também a caverna. A lua já estava no arco-íris. O início do rio já estava no nariz do ser da lua. O rosto não muda muito. A mente é mutante.
Eu: Muito obrigada por você ter vindo para mim. Muito obrigada por ter me ajudado a entender a infinitude, a capacidade de sermos muitos, a plasticidade.
Ser: Você não precisa ter medo da sua complexidade. É só deixar fluir.
Eu: Muito obrigada.