Primeira fêmea do universo.
Tribo e memória,
Gozo e luta.
Ninho de braços delgados,
Úteros pulsantes
Em sangue e sal.
Alma ancestral.
Exercício preparatório
Meditação colocando a criança ferida no colo da mãe interna.
Escrita espontânea
Eu sou a primeira fêmea do universo, prenha, nutridora, rubra, forte, selvagem, protetora de suas crias, companheira de seus homens e de suas mulheres, íntegra com a tribo e com a natureza. Eu sou a tataraneta da primeira mãe, também mãe, também reprodutora, portadora da memória de todos os partos, de todos os gozos, de todas as lutas e conquistas, amores e mortes, guerras e pacificações. Eu sou agricultora, cuidadora, rezadeira, amante, amada, desbravadora. A minha avó Irene, doce e compreensiva, alegre e triste, pequena e grande, forte, resiliente, etérea, mestra das mestras, berço meu. Bá Iolanda, contadora de cantigas e histórias, alimento sagrado, conforto e segurança, simplicidade e aconchego, seiva terrena e celeste, cuidadora de mim. Vó Judite, guerreira indígena, parideira de 28 filhos, sábia nordestina, bela, agreste, altiva, trabalhadora, fértil, mãos habilidosas, mente astuta. Mãe Célia, bela e frágil, menina mimada, princesa restrita em castelos de areia, sexualidade pulsante, hedonista, alegre, leve, egoísta, limitada, desprotetora de mim. Ninho de fêmeas, mãos poderosas, braços delgados e elásticos, músculos pulsantes em sangue e sal. Como é bom sentir esse abraço cósmico, quente, harmonioso, seguro. Que bom encontrá-las todas dentro de mim, que bom sentir-me toda em vocês. Que bom finalmente me sentir parte dessa corrente ancestral infinita de passado e futuro, atemporal. Todas nós crianças, fêmeas, mulheres, mães e filhas de nós mesmas e da vida. Bem vinda vida, que só agora me uno a ti. Sinto-a mestre, inteira, condutora. Ouso confiar, sair do controle ilusório, do medo paralisante, das memórias, do passado, que agora entendo necessário e distante. Presente de entrega e de confiança, confiança em minha capacidade de cuidar de mim.