Escrita espontânea
A criança nasceu e está gritando, gritando muito, ela está chorando alto para que os adultos possam prestar atenção nela. A criança está querendo a atenção dos pais, ela está querendo proteção, ela não vai mais ficar no canto, escondida, silenciosa, ela não quer mais ser a boa moça, a menina tão boazinha, tão educadinha, ela não quer mais se calar diante do mal, diante da violência, ela não se sente mais culpada ou responsável. A criança quer um ninho de proteção, um local seguro, um ambiente saudável de amor e respeito. A criança quer ser cuidada, quer ser amparada e respeitada.

Tantas mãos, mãos maternas, mãos paternas, mãos de padrinhos e avós, mas essas mãos e esses olhos e esses corações não foram capazes de proteger essa criança que ficou sozinha, chorando no escuro, sem pistas, sem colo, caída, jogada na jaula do animal doente e perverso. O ninho de proteção era ao mesmo tempo a jaula do mostro mais terrível. Como diferenciar o bem do mal? como acusar? como fugir? como gritar? como lutar?